Direção: Carlos Gerbase
Roteiro: Carlos Gerbase; Rudi Veronesi
Cátia e Veronese não combinam em nada: ela é economista e ele pretendente ser cineasta. Mas, eles se apaixonam, ainda que nenhum tenha o mínimo interesse pelo que o outro faz na carreira. Só que o destino força a jovem a descobrir o universo do cinema e conhecer melhor o que o amado realiza.
Tenho um carinho particular pelos
filmes produzidos pela “Casa de Cinema de Porto Alegre”.
Sempre que vejo me alegro por saber que é possível fazer cinema sem precisar
sair de sua terra natal e ir para o Rio ou São Paulo.
E Sal de Prata, como é comum nos filmes da Casa, não abre mão da
metalinguagem para fazer um certo desabafo, misturado com uma homenagem ao
próprio cinema. Amor e cinema – é o que motiva muitos dos nossos diretores a se
aventurar pelo universo cinematográfico brasileiro.
Em Sal de Prata, Gerbase arrisca uma estrutura narrativa não-linear,
confusa, porém interessante. Há um vai e vem na história, um entra e sai de
representações e, em determinado momento, o espectador precisa parar um
pouquinho para tentar entender em que tempo ele está e se o que ele está vendo
é o filme ou o filme dentro do filme, ou o filme de dentro do filme de dentro
do filme.
Mas uma coisa me incomoda em
alguns momentos. É quando o diretor usa a boca do personagem para falar algo
que ele mesmo queria dizer. Como ele não pode entrar em cena, olhar para a
câmera e falar, ele “corrompe” seu personagem e o utiliza como mero reprodutor
de sua tese.
Por exemplo, na seqüência logo
do começo, há um debate sobre o uso ou não do vídeo digital, em detrimento da
película. Na verdade, aquela discussão não é dos personagens, mas de Gerbase. É
ele quem se importa com essa questão, nas suas aulas e no seu cinema. Portanto,
esse debate no filme nada mais é que a verbalização da tese que ele tem atrás
das câmeras. Algo que ele acredita e poderia falar ou defender em uma
entrevista para um jornal ou em um texto publicado na internet, mas prefere
simular uma falsa discussão durante o seu filme. Acho isso ruim, destrói a
verdade e o sentido do próprio personagem e da cena.
E não é só nessa seqüência que
isso acontece. Outro exemplo é quando a personagem de Maria Cândido lê um
roteiro e ingenuamente pergunta o que são as abreviações para o seu colega.
Ele, prontamente, começa a dar uma mini-aula de roteiro, explicando os termos
técnicos. Mais uma vez não foi a personagem que quis saber essa informação,
mas o diretor é que quis passar – provavelmente para brincar com a
metalinguagem de algo que pertence ao universo dele, ao íntimo.
As referências também reforçam o filme
“discursivo” e retórico. Os quadros de filmes como Cidadão Kane, A Bela da Tarde
e Laranja Mecânica são muito
explícitos, praticamente esfregados na cara do espectador. Particularmente,
prefiro algo mais sutil.
É por tudo isso e mais um pouco
que achei o filme muito verbal e menos imagético. Muito teórico e pouco prático.
Uma espécie de manifesto pessoal sobre o (seu) cinema. Faltou o diretor dar
mais liberdade e autonomia aos seus personagens e, conseqüentemente, à sua
própria história. Faltou Gerbase querer falar menos.
De qualquer forma, o filme é
interessante, inteligente e tem algumas sacadas muito boas, como a seqüencia
inicial com Camila Pitanga – que também é Gerbase falando através da
boca de Camila, mas que ficou bom.
Vida longa aos filmes da Casa de
Cinema e à Gerbase, que desde o ano passado saiu da Casa, mas que segue
trabalhando por amor e pelo amor ao cinema!
Minha Nota: 7,3
IMDB: 5,8
ePipoca: 6,3
Sugestão: 3 Efes
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